domingo, 9 de março de 2008

Escola e Família em um compromisso de educar para a autonomia

Perguntados sobre suas expectativas em relação ao futuro de seus filhos, a grande maioria dos pais responde que deseja que sejam felizes e bem-sucedidos. Sem dúvida esses desejos são legítimos, mas é necessária uma discussão que esclarecesse o que significa, para cada um, o que é sucesso e o que é felicidade.

Alguns argumentariam que sucesso é ter um bom emprego, um bom salário, uma casa confortável e um carro do ano. Outros diriam que o mais importante é sentir-se útil e fazendo a diferença no mundo. Para outros é importante ter saúde, amigos e família, enquanto outros acham que é curtir a vida sem preocupações. Conceituar felicidade seria ainda mais controverso!

Mas do que nossos filhos realmente precisarão daqui a alguns anos? Em que mundo viverão? Em um mundo onde a tecnologia apresenta tantas possibilidades e tem uma mudança tão rápida que o novo se torna logo obsoleto? Onde o conhecimento aumenta a cada dia e a memória não dá conta de guardar todas as informações importantes? Em que as empresas reduzem seus quadros para cortar custos e o desemprego aumenta?
E o aquecimento global, como vai afetá-los? Haverá água para todos? Já dominamos o segredo do genoma humano. Como será a reprodução de nossa espécie? A clonagem será praticada? E os transgênicos, não farão mesmo mal à saúde?

Não sabemos nenhuma das respostas para as questões acima, e tantas outras que poderíamos formular. Mas percebemos as incertezas. Nós e nossos filhos teremos que encontrar novas respostas, novos caminhos, como já aconteceu outras vezes ao longo da história da humanidade. E para trilhar esses caminhos precisamos de uma nova educação, uma nova formação.

Nossos filhos terão que saber pensar, e não apenas obedecer. Resolver problemas e encontrar soluções criativas para as novas situações. Ter uma ética firme para não se deixarem levar pela incerteza.

Por isso precisamos educar para a autonomia, entendida não apenas como a capacidade de cuidar de si mesmos, mas principalmente, como a capacidade de serem governados por si mesmos, de acordo com seus valores e princípios. Precisarão de uma autonomia moral que devemos começar a construir desde já.

Essa autonomia é muito diferente da liberdade completa. Significa ser capaz de pensar sob outros pontos de vista, de levar em conta fatos relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. Precisarão aprender a não pensarem apenas em si mesmos, em suas vontades e desejos, mas a pensar em si como parte de um grupo, seja ele a família, a escola ou a sociedade.

Para aprender a pensar assim os pais e os educadores devem ajudá-los a perceberem, desde cedo, suas possibilidades e seus limites. Uma criança pode brincar com os amigos, mas não pode ter todos os brinquedos para si. Pode se zangar com o outro por algo que o incomodou, mas não pode bater. Pode espalhar os brinquedos, desde que os recolha no final da brincadeira. Pode comer primeiro a carne, mas deve comer também a salada. Tem direito a não gostar de alface, mas deve comer outro tipo de verdura. Pode fazer escolhas, mas estas estão de acordo com suas possibilidades a cada idade.
Para ajudar as crianças a construírem uma noção do que podem ou não fazer, do que é certo ou errado, não adianta mais pensar em um sistema de disciplina que inclua recompensas e castigos, porque está provado que eles não formam para a autonomia, mas para o conformismo, o jeitinho de driblar regras ou a revolta. Não adianta fazer com que as crianças tenham medo de serem punidas, e nem deixá-las com a impressão de que podem fazer tudo o que querem. Precisamos negociar com as crianças as regras para que elas aprendam a construí-las, a revê-las e a melhorá-las.

E precisamos também ser coerentes com nossas regras. Se deixamos objetos espalhados pela casa não podemos exigir que nossos filhos não o façam. Se xingamos no trânsito, porque nossos filhos não poderiam xingar os colegas? Se damos um ‘jeitinho’ de ‘nos dar bem’ nas situações, mesmo que quebremos ‘uma regrinha’, como podemos exigir que nossos filhos nos respeitem? Respeito não se exige, se conquista. Lembre-se daqueles adultos (professores, parentes, etc.) que você mais respeitava quando criança ou adolescente. Não tenho dúvida de que eram os que você mais admirava, a quem queria agradar porque seu afeto era importante. Não os que lhe causavam mais temor.
Esse é outro ponto importante a considerar na formação moral de nossas crianças: não podemos corrigi-los com raiva, mas sim com afeto. Precisamos deixar claro que nós os amamos, mas não apreciamos aquele comportamento. Devemos ajudá-los a ver as conseqüências de seus atos: se mentiu, conseguiremos acreditar nele numa próxima vez? Se machucou um colega, este colega vai querer brincar com ele de novo? Se não fez as tarefas, poderá brincar enquanto não terminá-las?

Reduzindo nosso ‘poder’ de adultos e valorizando o respeito mútuo, ajudando nossos filhos a terem mais iniciativa, a sentirem-se seguros e amados e, ao mesmo tempo, progressivamente responsáveis por si mesmos e por suas relações com os outros, nós estaremos dando a eles uma ferramenta poderosa para viver no mundo de hoje e de sempre.

Pois sempre foi, e é cada vez mais importante, saber trabalhar com o outro, estar junto, alternar-se na liderança, negociar, ceder, argumentar, convencer... Comparar pontos de vista e aprender com o outro. Valorizar a diversidade e respeitar as diferenças. Esses desafios ainda trouxemos para o século XXI, ainda estamos aprendendo a solucionar.

Quero deixar você hoje com alguns pensamentos. São perguntas que, como mãe, me faço constantemente. Elas me ajudam a perceber se continuo indo pelo caminho certo ou se a correria do dia-a-dia está me fazendo perder o rumo. Todos nós, pais e mães atuais ou futuros, amamos nossos filhos e queremos o melhor para eles. Mesmo assim, de vez em quando precisamos de uma bússola para apontar o caminho, porque parece que o esquecemos entre tantos afazeres.

O que seu filho vê quando olha para você?
Uma pessoa a quem ele pode admirar, de quem vai sentir orgulho?
O que seu filho pensa quando você o corrige?
Que ele pode fazer tudo o que quer, pois você não se importa?
Que ele precisa ser perfeito para ter valor?
Que você o ama, mas não aceita certos comportamentos?
Que mesmo quando ele errar você estará ao seu lado?
Como você vai lidar com seu filho esta semana quando ele:
Bater no seu irmão?
Gritar com você?
Te der um abraço no final da escola?
Nem te falar oi quando você chegar em casa?
Não quiser tomar banho? Chamar você para brincar com ele?
Pedir para fazer a lição de casa juntos?
For para sua cama no meio da noite?
Tiver um acesso de birra porque quer algo que você não quer dar?
Te abraçar com aquele jeito maroto e pedir: Pai/mãe, posso ter um cavalo de estimação?

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