19/03/2009 - 10h06
Quanto mais cedo se aprende idioma, melhor, dizem especialistas
RACHEL BOTELHO, da Folha de S.Paulo
(originalmente disponível em http://www.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u537179.shtml)
Já não se discute mais a importância do inglês na vida profissional ou, antes disso, no acesso ao mundo de informações e ferramentas disponíveis na internet. A dúvida, agora, parece estar na melhor época para aprender o novo idioma a ponto de dominá-lo no futuro.
Para os especialistas ouvidos pela Folha, a resposta é: quanto mais cedo, melhor. "Ao nascer, o cérebro tem uma plasticidade neural muito grande, uma capacidade de aprendizado que declina com a idade. E, para algumas habilidades, como essa, declina mais rapidamente do que para outras", afirma o neurocientista Marcus Vinícius Baldo, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e presidente da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento.
Sabrina Camargo Viertler, de um ano e oito meses, faz atividade na escola Cidade Jardim-Play Pen, localizada em São Paulo
Nas casas em que se fala somente um idioma, as escolas de educação infantil bilíngue são o caminho mais natural. Desde 2005, cerca de 40 instituições do gênero abriram as portas no país, segundo a Organização das Escolas Bilíngues do Estado de São Paulo. Só no Estado, estima-se que existam 50.
A maioria delas recebe bebês com pouco mais de um ano de idade para uma imersão na língua, quando todas as atividades são feitas no segundo idioma. Dos cinco aos sete anos, ocorre o processo de alfabetização -em português, na maioria dos casos. "É importante que a alfabetização seja feita na língua materna e em tempos diferentes [do inglês] porque o método é completamente diferente nas duas línguas", diz Eliane Gomes Nogueira, membro da Organização das Escolas Bilíngues do Estado de São Paulo.
Segundo Marizilda Guimarães Martins, mestre em educação infantil bilíngue, a alfabetização ocorre uma só vez, mas o conhecimento é automaticamente transferido para outro idioma em que a criança já tenha habilidade oral.
Muitos pais, entretanto, temem que a exposição concomitante a dois idiomas confunda as crianças e prejudique o aprendizado da primeira língua. A publicitária Camila Travesso, 37, deixou as ressalvas de lado e matriculou os três filhos, de um a seis anos, em uma escola bilíngue. "Achei que daria um nó na cabeça deles, mas não dá. Sinceramente, não vejo nenhum ponto negativo", diz.
Para Terezinha Machado Maher, especialista em ensino bilíngue do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, a exposição a uma ou mais línguas estrangeiras é sempre benéfica. "Há um mito de que pode causar confusão mental na criança, mas não é verdade. Existem na África regiões com um grau de densidade linguística muito grande em que as crianças falam cinco ou seis línguas sem problemas. Nós subutilizamos nossa capacidade de aprendizado", diz.
No início, é natural que um idioma interfira no outro, mas trata-se de um processo natural e passageiro. "É o que se chama de troca de código, mas está provado que se trata de um enriquecimento cognitivo, não de um empobrecimento", diz Marizilda Guimarães Martins.
Outro aspecto positivo é a suavização -ou mesmo ausência- de sotaque. "As crianças estão preparadas para falar mais fonemas do que nós, por isso raramente temos uma pronúncia exata de uma língua que aprendemos mais tarde", diz.
Segundo Terezinha Maher, problemas podem surgir apenas se a criança for alfabetizada em outra língua que não a materna. "Ela precisa conhecer bem a língua. Nas décadas de 1980 e 1990, algumas escolas insistiam em alfabetizar em inglês. Passados cinco anos, a criança era um leitor precário em ambas", afirma.
Para evitar frustrações, os pais devem acompanhar de perto a fase de alfabetização. "O material de leitura e as primeiras tarefas de escrita devem ser em português", diz.
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